terça-feira, 13 de dezembro de 2011

What if I say I will never surrender?




Todos sabem que o meu pai é pastor da Igreja Batista. Se não sabem, deveriam saber, já que essa é uma das coisas que eu não faço questão de esconder de ninguém, se é que eu faço questão de esconder alguma coisa.

Sempre tive os preceitos do evangelho como diretrizes. Desde que eu era bem pequeno, enfiaram na minha cabeça que, para ser "salvo", a gente precisa renunciar a todos os nossos desejos. E assim eu cresci, achando que uma vida de sacrifícios era a única opção que eu tinha.

Eu poderia ter aceitado essa condição, poderia ter me conformado e optado por uma vida sem emoção. Ao invés disso, eu decidi ser feliz. Ou pelo menos tentar ser. Foi essa a minha opção, embora eu ainda me sinta perseguido por uma culpa que parece não ter fim.

Conheço muitas pessoas que escolheram por abdicar de suas vidas em prol de um ideal, e é exatamente em virtude de toda a culpa que eu sinto que eu consigo entender esse posicionamento. Respeito as decisões dos outros. Logo, espero que as minhas decisões também sejam respeitadas.

Imagino que seja muito difícil pro meu pai saber que eu não compartilho da mesma fé que ele. Mesmo assim, ele, que é meu pai, não interfere nas minhas decisões. Acho que ele simplesmente percebe o esforço imenso que eu faço pra respeitar o estilo de vida que ele leva e me devolve na mesma moeda. Nada mais justo.

Não sei direito o motivo de eu estar escrevendo essas coisas. Acho que é porque eu já tô cansado de ouvir insultos de pessoas desconhecidas na rua. Acho que é porque eu já tô cansado de receber olhares de reprovação cada vez que eu entro num ônibus e as pessoas, ao examinarem as minhas roupas, já saem tirando conclusões. Acho que é porque eu já tô cansado de receber ligações de pessoas da igreja, "ovelhas" do meu pai, que querem me forçar a "voltar para a casa do Senhor", como se eu precisasse ir à igreja pra ter Deus do meu lado.

Sei que muitos não fazem isso de propósito, que agem inocentemente, como se estivessem me fazendo um grande favor, tamanha a falta de noção dessas pessoas. Afinal de contas, aprenderam que devem "levar a luz aos que vivem nas trevas". Mas será que o anúncio do evangelho deve se sobrepor ao meu direito de fazer outra opção?

Como eu sugeri no último post, perdi um pouco da fé que eu tinha no meu caminho até aqui, mas continuo acreditando que Deus é justo e não quer me ver infeliz por ter feito a escolha errada para a minha vida, por ter preferido não viver.

E, só pra esclarecer, sim, eu ainda acredito em Deus. Não é o mesmo Deus dos meus pais. É o meu.

Acho que seríamos mais felizes se todos se preocupassem menos com o Deus dos outros.


Um comentário:

Anônimo disse...

E quem é o seu deus? Porque pra mim não existe um deus de cada um. Deus é um só. E você está errado quando diz sobre uma vida de sacrifícios já que Deus diz " Misericórdia quero e não sacrifícios"... Deus te ama independente de sua escolha, e como temos o livre arbítrio ele deixa, permite que você siga do jeito que você quer, só não aprova, mas deixa. E...não consigo entender...se vc diz que fez a escolha errada, porque prefere continuar nela??